Tipos de estaca

ESTAQUIA 

A propagação vegetativa por estacas consiste em destacar da planta original um ramo, uma folha ou raiz e colocá-los em um meio adequado para que se forme um sistema radicular e, ou, desenvolva a parte aérea. A propagação por estacas baseia-se na faculdade de regeneração dos tecidos e emissão de raízes.

Dentre os métodos de propagação vegetativa, a estaquia é, ainda, a técnica de maior viabilidade econômica para o estabelecimento e plantio clonais, pois permite, a um custo menor, a multiplicação de genótipos selecionados, em curto período de tempo. Além disso, a estaquia tem a vantagem de não apresentar o problema de incompatibilidade que ocorre na enxertia (Paiva e Gomes, 2001).

As estacas herbáceas são obtidas de ramos apicais, sua retirada deve ser feita pela manhã, quando ainda estão túrgidas e com níveis mais elevados de ácido abscesso e de etileno, que são elementos favoráveis ao enraizamento (Simão, 1998).

As estacas lenhosas são obtidas de ramos lenhosos ou lignificados, com idade entre 8 e 15 meses e encontram maior campo de aplicação que as herbáceas e, quase sem exceção, constituem-se no material básico de propagação de árvores frutíferas (Simão, 1998), ainda segundo este autor, os principais tipos de estacas lenhosas com suas características são:

 

* Estaca simples

A estaca simples é obtida subdividindo-se o ramo em pedaços de 20 a 30 cm de comprimento. O diâmetro dessa estaca normalmente varia de 0,5 a 1,5 cm e cada uma deve possuir de 4 a 6 gemas.

Esse tipo de material constitui-se num dos mais efetivos, tanto pelo rendimento que oferece como na prática da estaquia.

 

* Estaca talão

Difere da anterior por trazer consigo parte do lenho velho, que se denomina talão. É obtida destacando-se um ramo no ponto de inserção com outro de dois anos. É utilizada quando a espécie ou variedade apresenta dificuldade de enraizamento.

O número de estacas, neste tipo, é inferior ao das simples, pois só podem ser obtidas quando os ramos apresentam bifurcação.

* Estaca cruzeta

Assemelha-se ao tipo anterior, porém, em vez de ser retirada com um pedaço de lenho velho na forma de pata de cavalo, é obtida secionando-se o ramo de dois anos, de modo a permitir maior porção de lenho. Apresenta o formato de uma cruz.

 

* Estaca tanchão

É um tipo de estaca pouco comum, que apresenta comprimento que vaia entre 60 a 80 cm ou mais e diâmetro de 4 a 20 cm. É utilizada na multiplicação de jabuticabeira, no Brasil e de oliveira, nos países europeus. A presença de lenho velho na lingueta favorece o enraizamento, por possuir raízes pré-formadas. O mesmo ocorre com as estacas de talão.

 

* Estaca gema

O material de propagação é representado por uma única gema e é utilizado em casos muito especiais. Seu uso se restringe à multiplicação de material muito valioso ou quando não se dispõe de material em quantidade suficiente.

 

* Estaca enxerto

As estacas de difícil propagação podem ter o seu enraizamento facilitado utilizando-a com garfo e à estaca de mais fácil enraizamento, como cavalo.

 

– Estacas subterrâneas

OBS: Link para enxertos

Propagação Vegetativa por Enxertia

 

 

 

* Estaca raiz

É um tipo de estaca pouco utilizado. Tem algumas aplicações em pessegueiro, goiabeira e caquizeiro. A melhor estaca é retirada de plantas com dois a três anos de idade. A época mais favorável é o fim do inverno e o início da primavera, quando as raízes estão bem providas de reservas. Ao plantá-la, deve-se manter a polaridade correta (Simão, 1998).

A estaca raiz produz primeiro uma haste adventícia, sobre a qual ocorre o enraizamento. A polaridade é inerente aos ramos e raízes. A estaca forma o broto na posição distal e as raízes, na proximal.

 

Ø        Época de propagação

As estacas herbáceas, de ponteiro, são multiplicadas durante o ano todo, de preferência durante a primavera e o verão.

As lenhosas normalmente são empregadas após a queda das folhas, portanto, quando o ramo se apresenta outonado. O enraizamento das estacas lenhosas está intimamente ligado às substâncias de reserva, daí a sua utilização durante o período de repouso vegetativo.

 

Ø        Preparo das estacas e da estaquia

As estacas são preparadas cortando-se os ramos de acordo com o tipo desejado. A parte superior é secionada a um ou mais centímetros acima da última gema e a parte inferior, em bisel, com uma gema do lado oposto ao corte.

A estaquia é feita em terreno preparado, e as estacas são fincadas no solo, de modo que apenas um terço permaneça exposto ou uma única gema, segundo o tipo de estaca utilizada. Exceção é feita para a estaca gema ou semente, a qual requer os mesmos cuidados que os empregados na propagação de sementes.

Hoje, com o processo de nebulização, a propagação se tornou mais fácil e econômica. A nebulização mantém a umidade ao redor da estaca, diminui a temperatura, reduz a transpiração e a respiração, favorecendo o enraizamento (Simão, 1998).

 

Ø        Desenvolvimento Anatômico das Raízes nas Estacas

O processo de desenvolvimento das raízes adventícias nas estacas caulinares pode ser dividido em três fases: formação de grupos de células meristemáticas (as iniciais da raiz); diferenciação desses grupos de células em primórdios de raiz reconhecíveis. E desenvolvimento e emergência das novas raízes, incluindo a ruptura de outros tecidos do caule e a formação de conexões vasculares com os tecidos condutores da estaca (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

Ainda de acordo com esses autores, nas estacas de raiz, devem ser produzidos caules e, em alguns casos, raízes adventícias. Em muitas plantas as gemas adventícias formam-se com facilidade sobre raízes intactas. Nas raízes jovens, essas gemas podem originar-se no periciclo, próximo do câmbio vascular, podendo, no início, ter aspecto de primórdio radicular. Em raízes velhas, as gemas podem-se originar exogenamente num crescimento semelhante ao calo, originado de felógeno. Os primórdios de gemas também podem desenvolver-se de tecido caloso lesionado, que se prolifera dos extremos cortados ou das superfícies lesionadas das raízes.

 

Bases Fisiológicas da Iniciação de Raízes nas Estacas

 

* Substâncias de Crescimento nas Plantas

 

Para a formação de raízes adventícias em estacas, são necessários certos níveis de substâncias de crescimento natural na planta, sendo umas mais favoráveis que outras. Há vários grupos de tais substâncias, dentre eles as auxinas, as citocininas e as giberelinas. As auxinas são as de maior interesse no enraizamento de estacas. Além dos grupos citados, é provável que haja outras substâncias, de ocorrência natural, que desempenham alguma função na formação de raízes adventícias (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

A auxina de presença natural é sintetizada principalmente nas gemas apicais e nas folhas jovens e, de maneira geral, move-se através da planta, do ápice para a base (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

Dentre os compostos com atividades auxínicas têm-se o ácido indolacético, o ácido indolbutírico, o ácido naftalenoacético e o ácido 2,4-diclorofenoxiacético, comprovadamente indutores de enraizamento.

As citocininas são substâncias que estimulam a divisão celular e, quando em níveis relativamente altos, há formação de gemas; no entanto, inibem a formação de raízes.

As substâncias reguladoras de crescimento das plantas, que formam o grupo das giberelinas, parecem não ser necessárias para a formação de raízes adventícias e estacas caulinares. Ao contrário, os testes realizados em diversas espécies de plantas mostram uma inibição do enraizamento. É possível que o efeito inibitório das giberelinas no enraizamento de estacas seja causado pelo estímulo ao crescimento vegetativo, que compete com a formação da raiz (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

 

* Efeitos de Folhas e Gemas

É de grande importância no enraizamento de estacas, em virtude da produção de auxinas e de outras substâncias que atuam no enraizamento. Em algumas estacas a remoção das gemas reduz quase que por completo a formação de raízes. Ao remover um anel de casca, abaixo de uma gema, a formação de raízes é reduzida, impedindo o fluxo de substâncias promotoras, pelo floema, para a base da estaca.

Há muitas provas experimentais de que a presença de folhas em estacas exerce forte influência estimuladora da formação de raízes. Os carboidratos, resultantes da atividade fotossintética das folhas, também contribuem para a formação de raízes, embora os efeitos estimuladores de folhas e gemas se devam, principalmente, à produção de auxina (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

 

* Inibidores Endógenos de Enraizamento

As estacas de algumas plantas de difícil enraizamento não chegam a formar raízes, em virtude da presença natural de inibidores químicos. Em algumas plantas estes inibidores podem ser lixiviados, colocando-se as estacas em água corrente, aumentando assim a capacidade de enraizamento.

A maior ou menor capacidade de enraizar vai depender do balanço entre as substâncias promotoras e inibidoras do enraizamento, que, de modo geral, é muito variável entre as espécies (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

 

Ø        Fatores que Afetam a Propagação por Estacas

Dentre os vários fatores de que depende o enraizamento de estacas, destacam-se os ambientais, o estado fisiológico, a maturação, o tipo de propágulo, a sua origem na copa e a época de coleta, que influenciam, sobretudo, na capacidade e na rapidez de enraizamento (Gomes, 1987, citado por Paiva e Gomes, 2001). O sucesso, no entanto, depende de fatores internos e externos.

 

* Fatores Internos

 

Espécie

A capacidade de emissão de raízes por um ramo é uma característica varietal, devido à interação de fatores inerentes, que se encontram presentes em suas células, bem como as substâncias produzidas pelas folhas, como: auxina, carboidratos, compostos nitrogenados e vitaminas. Portanto, a formação de raízes está associada à fisiologia, à química e à estrutura anatômica.

A macieira, cerejeira, pessegueiro e mangueira apresentam dificuldades de enraizar, devido à presença de inibidores de enraizamento. O tratamento com água aumenta a capacidade de enraizamento (Simão, 1998).

 

– Condição fisiológica da planta mãe

Há consideráveis evidências de que a nutrição da planta mãe exerce forte influência sobre o desenvolvimento de raízes e ramos (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

Estacas colhidas de uma mesma matriz e submetidas aos mesmos tratamentos respondem diferentemente quanto à taxa de enraizamento, em diferentes épocas do ano. Isto está diretamente ligado ao teor de carboidratos armazenados na matriz.

O teor de carboidratos na planta mãe deve ser alto e o de nitrogênio baixo. O teor de fósforo e de potássio tem efeito menor sobre o enraizamento de estacas (Paiva e Gomes, 2001).

Os fatores que determinam a condição fisiológica são, ainda, relativamente desconhecidos, muito embora sejam fundamentais, principalmente no domínio da enzimologia para o controle do processo. Sabe-se, no entanto, que elevado nível de reservas com uma elevada relação C/N favorece o enraizamento, desconhecendo-se, todavia, o metabolismo dos carboidratos (Gomes, 1987, citado por Paiva e Gomes, 2001).

As reservas parecem ser indispensáveis à sobrevivência do propágulo até o enraizamento e posterior desenvolvimento. Mesmo nos casos em que há retenção das folhas pelo propágulo, as reservas a um nível conveniente facilitam a emissão de raízes e incrementam a fotossíntese. Acrescente-se que boa parte destas se transferem para a base da estaca, contribuindo para a formação de primórdios radiculares (Gomes, 1987, citado por Paiva e Gomes, 2001).

Em plantas com dificuldade de enraizamento, podem-se usar tratamentos para alterar artificialmente as condições fisiológica da planta mãe ou de partes dela, por exemplo, o anelamento de ramos, que provoca aumento no nível de auxinas naturais acima do corte e diminuição abaixo (Paiva e Gomes, 2001).

 

– Idade da Planta mãe

Estacas de plantas jovens enraízam melhor que as de plantas velhas. O rejuvenescimento, por meio de poda, favorece o enraizamento. Estacas de plantas jovens, procedentes de sementes, enraízam com maior facilidade que as estacas retiradas de plantas da mesma espécie, porém mais velhas (Simão, 1998).

Em plantas que se propagam facilmente por estacas, a idade da planta mãe tem pouca importância, porém, em planas difíceis de enraizar, este fator é relevante. Em geral, estacas tomadas de plantas jovens (crescimento juvenil) enraízam com maior facilidade que tomadas de ramos mais velhos (crescimento adulto) (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

Pode-se dizer que quanto mais juvenil o material, maior será o sucesso do enraizamento, quer expresso em porcentagem, quer pela rapidez de formação e, ainda, pela qualidade das próprias raízes, bem como pela capacidade de crescimento da nova planta (Gomes, 1987, citado por Paiva e Gomes, 2001). O problema apresentado por material adulto é o aparecimento ou a produção de substâncias inibidoras do enraizamento.

 

– Época do ano

A época do ano, em alguns casos, pode exercer grande influência sobre o enraizamento das estacas. Para estacas de folhas caducas, as melhores épocas são o outono e o inverno e, para as de folhas persistentes, a primavera e o verão (Simão, 1998).

Para algumas espécies que enraízam com facilidade, a estacas podem ser colhidas em qualquer época do ano, enquanto para outras o período de maior enraizamento coincide com a estação de repouso ou com a estação de crescimento. Para cada planta específica é necessário que se determine qual a melhor época do ano para retirar as estacas, a qual está diretamente relacionada com a condição fisiológica da planta mãe (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

 

– Tipo de estaca

O tipo de estaca pode também ser decisivo e deve-se usar o mais adequado. Com relação às estacas obtidas de ramos, a parte da copa onde é extraído o material não é indiferente quanto ao resultado do enraizamento. Por uma questão, normalmente, de maturação fisiológica, a base da copa é mais favorável que a parte superior para colheita (Paiva e Gomes, 2001).

Os ramos laterais parecem enraizar melhor e em maior número que os verticais e também apresentam o dobro de raízes que os vértices ou terminais. O enraizamento parece ser mais favorável às estacas da parte basal do ramo que as da parte superior, devido ao maior teor de amido (Simão, 1998).

 

* Fatores Externos

 

– Umidade

É fator de grande importância para o sucesso de um programa de propagação vegetativa por meio de enraizamento de estacas. A retirada das estacas deve ser feita sempre que possível pela manhã, quando estão ainda túrgidas e com maior teor de ácido abscísico e de etileno (Simão, 1998).

O ambiente seco favorece o ressecamento das estacas, reduzindo sua possibilidade de enraizamento. Umidade relativa mais alta, mantém as estacas túrgidas, favorecendo o seu enraizamento (Simão, 1998).

A presença de folhas nas estacas é um forte estímulo para a formação de raízes, porém a perda de água pela transpiração pode levar as estacas à morte antes que se formem as raízes. Alto grau de umidade relativa do ar é necessário para evitar o dessecamento das estacas (Paiva e Gomes, 2001).

Em espécies que enraízam com facilidade, a rápida formação de raízes permite que a absorção de água compense a quantidade perdida pela transpiração; porém, em espécies que enraízam mais lentamente deve-se reduzir a níveis bem baixos a transpiração pelas folhas, até que se formem as raízes. Para contornar o problema da transpiração, deve-se manter a umidade relativa do ar na região das estacas em torno de 80 a 100%, conservando-se assim a turgescência dos tecidos.

Pode-se obter esta umidade relativa com o uso de um sistema de nebulização, que proporciona a formação de uma fina película de água na superfície da folha, reduzindo assim, a transpiração e mantendo uma temperatura relativamente constante na superfície das folhas das estacas.

 

Temperatura

A temperatura tem importante função regulatória no metabolismo das estacas, devendo fornecer condições para que haja indução. A flutuação da temperatura é prejudicial à sobrevivência das estacas (Bertoloti e Gonçalves, 1980, citados por Gomes e Paiva, 2001).

Temperaturas amenas, entre 12 e 27ºC, favorecem o aumento de carboidratos e o enraizamento das plantas. A estratificação das estacas a baixa temperatura inibe a formação de raízes e impede a brotação (Simão, 1998).

 

–  Luz

Interfere na produção de carboidratos, de ramos e nas suas características, pela sua intensidade, qualidade e fotoperiodismo (Simão, 1998).

A luminosidade fornecida às estacas durante o período de enraizamento é de fundamental importância na emissão de raízes. Portanto, deve-se fornecer às estacas com folhas luminosidade máxima, de forma a propiciar um máximo de fotossíntese, para que haja acúmulo de substâncias indutoras do enraizamento (Hartmann e Ester, 1976, citados por Paiva e Gomes, 2001).

Nas condições brasileiras, a intensidade luminosa geralmente precisa ser reduzida, protegendo a planta com sombrite (50%) ou ripados, para evitar a insolação excessiva das estacas (Paiva e Gomes, 2001).

 

Substrato

O substrato, no qual são colocadas as estacas, influi no sucesso do enraizamento e vai depender do sistema de irrigação a ser empregado. O meio pode influir muito não só na porcentagem de enraizamento, como também na qualidade do sistema radicular que se forma (Paiva e Gomes, 2001).

Há diferentes tipos de substrato que podem ser usados de forma isolada ou em mistura com outros. Exemplos: vermiculita, turfa, serragem, areia, casca de arroz carbonizada, moinha de carvão, terriço (Paiva e Gomes, 2001), solo (mistura de terra, areia e matéria orgânica), perlita, esfagno, pedra-pomes (Simão, 1998) e diversas outras misturas destes constituintes.

Qualquer um desses materiais deve ser suficientemente firme e denso para manter a estaca até o enraizamento e ser poroso para favorecer a presença de oxigênio e permitir a percolação do excesso de água, livre de plantas daninhas, patógenos e nematoides.

 

 

FORÇAMENTO DAS ESTACAS

 

As estacas que apresentam dificuldades de enraizamento podem ser tratadas por meio mecânico e/ou fisiológico.

 

Ø        Mecânico

Os meios mecânicos consistem em: anelamento, incisões, torções e descascamento e possibilitam o acúmulo de auxinas e carboidratos, pelo bloqueio das translocações dessas substâncias e de outros fatores de promoção do enraizamento, bem como o aumento de células parenquimatosas e de tecidos menos diferenciados (Simão, 1998).

 

Ø        Fisiológico

Dentre os meios fisiológicos, temos: estiolação e reguladores de crescimento.

 

* Estiolação

Por definição, é a exclusão total de luz. Pode ser feita pelo uso de um adesivo escuro (preto) ou velcro nos ramos ainda presos à planta, por um período de 30 a 40 dias.

A estiolação aumenta o teor de amido, acentua a sensibilidade à auxina e reduz o teor de lignina e tem sido associada a mudanças de substâncias fenólicas e à presença de parênquima descontínuo, o que reduz a barreira mecânica oposta ao enraizamento (Simão, 1998).

 

* Reguladores de crescimento

Muitas plantas possuem quantidade suficiente de hormônio para a iniciação radicular, enquanto outras apresentam dificuldades para enraizar (Simão, 1998).

O objetivo de tratar estacas com reguladores de crescimento (hormônios) é aumentar a porcentagem de estacas que forma raízes, acelerara a formação destas e aumentar o número e a qualidade das raízes formadas em cada estaca, bem como a uniformidade de enraizamento (Borges, 1978, citado por Paiva e Gomes, 2001).

A distinção entre hormônio de planta e reguladores de crescimento é que todo hormônio regula o crescimento, porém nem todos os reguladores de crescimento são hormônios. Vários são os tipos de reguladores: auxina, citocinina, giberelina, ácido abscísico e etileno (Simão, 1998).

A auxina está presente no desenvolvimento do ramo e na formação de raízes adventícias. Sua presença é natural, principalmente nas gemas apicais e folhas novas, e ela se movimenta desde a copa até as raízes. Há uma gama de compostos sintéticos químicos que têm atividade de auxina: ácido indolacético (AIA), ácido indolbutírico (AIB), ácido naftalenoacético (ANA) e 2,4-D-diclorofenoxiacético (2,4-D) (Simão, 1998).

As citocininas são substâncias químicas que estimulam a divisão celular. Há várias substâncias sintéticas e naturais que têm atividade de citocinina, como a quinetina, que em nível alto, favorece a formação de gemas, mas não de raízes.

As auxinas e citocininas constituem um grupo de substâncias reguladoras do crescimento, com maior ação na regeneração de órgãos. Teor elevado de auxina e baixo de citocinina favorece a formação de raízes adventícias; nível baixo de auxina e elevado de citocinina atua na formação de brotos (Simão, 1998).

As giberelinas são conhecidas pelo seu efeito promotor do crescimento da haste e parece não ser necessário para a iniciação de raízes adventícias (Simão, 1998).

O ácido abscísico é encontrado nas folhas, nas gemas, nos frutos e nas sementes e o transporte se dá via floema e xilema. Regula a dormência, controla os estômatos, a suberização e outras funções das plantas (Simão, 1998).

O etileno é um gás envolvido na regularização da maturação, abscisão, dormência e outros processos.

Fatores que afetam a formação de raízes

Alguns fatores relacionados à planta podem influenciar no enraizamento das estacas. Entre os principais, podemos citar

a) Idade da planta matriz: de modo geral, estacas provenientes de plantas jovens enraízam mais facilmente. Em plantas adultas, é recomendável a obtenção de brotações jovens, o que facilita o enraizamento. Para isso, uma poda visando promover o rejuvenescimento de partes da planta adulta pode favorecer o enraizamento de estacas retiradas das novas brotações.

b) Condição fisiológica da matriz: está relacionado com a condição da planta no momento da coleta das estacas. O ideal é que as plantas estejam em bom estado nutricional e não tenha sofrido estresse por falta de água. Assim, estacas retiradas de uma planta matriz em períodos de seca enraizarão menos do que aquelas obtidas de uma planta sob ótimas condições de água. O mesmo acontece em relação à condição nutricional da planta. Estacas retiradas de plantas em bom estado nutricional enraízam com maior facilidade do que aquelas com deficiência de nutrientes. Porém, essa definição não se aplica ao nitrogênio. De modo geral, o enraizamento é prejudicado quando as plantas apresentam maior conteúdo de nitrogênio, o que leva a entender que, antes da coleta das estacas, as plantas matrizes não devem ser receber adubação nitrogenada.

c) Época do ano: está diretamente relacionada com a consistência da estaca. Quando coletadas no período de crescimento vegetativo intenso (primavera/verão), as estacas apresentam-se mais herbáceas e, quando coletadas durante o período de repouso (inverno), apresentam-se mais lenhosas e tendem a enraizar menos. Porém, quando se utilizam estacas herbáceas ou sem lenhosas, essas requerem maiores cuidados, pois são mais sensíveis a dessecação. De modo geral, para cada espécie ou cultivar e condição ambiental específica, deve ser determinada a melhor época do ano para a coleta das estacas, de modo a favorecer a obtenção do maior número possível de estacas enraizadas.

d) Tipo de estaca: o tipo mais adequado de estaca varia de acordo com a espécie e até mesmo com a cultivar. Em estacas lenhosas, a parte basal do ramo geralmente proporciona melhores resultados, provavelmente por causa do maior acúmulo de substâncias de reserva, em especial carboidratos, e menor teor de nitrogênio. Por outro lado, em estacas sem lenhosas, os melhores resultados são obtidos com a porção apical do ramo. Estacas com gemas floríferas, ou coletadas durante a floração, tendem a enraizar menos, pois as flores mobilizam as reservas da estaca. Estacas mais lignificadas geralmente apresentam maior dificuldade de enraizamento do que estacas de consistência mais herbácea.

e) Sanidade: estacas coletadas de plantas com presença de vírus, além de serem indesejáveis no pomar, normalmente apresentam dificuldade de enraizamento, e também influenciam na qualidade das raízes. O ataque de fungos e bactérias também pode ocasionar a morte das estacas, antes ou após a formação de raízes.

f) Oxidação de compostos fenólicos: em algumas espécies, o forte escurecimento na região do corte da estaca, ocasionado pela oxidação de compostos fenólicos, pode dificultar a formação de raízes. Esse escurecimento no local do corte é comum em espécies pertencentes à família Myrtaceae, como é o caso da jabuticabeira, da pitangueira, da cagaita, da guabiroba, etc. No caso do pequi, também é observado.

Além dos fatores relacionados à planta, depois de preparada à estaca e colocada para enraizar, diversos fatores externos podem influenciar. Entre esses fatores, podemos destacar

a) Temperatura: a temperatura é fator importante no metabolismo das plantas, e afeta o enraizamento das estacas. Altas temperaturas induzem o murchamento da estaca, especialmente em estacas herbáceas e sem lenhosas, e podem favorecer o desenvolvimento de brotação antes do enraizamento, o que é indesejável. Em sistemas comerciais de produção de mudas por estacas, o aquecimento do leito de enraizamento ou substrato favorece o enraizamento, isso porque o aumento da temperatura favorece a divisão celular. Fachinello et al. recomendam, de modo geral, temperaturas do substrato entre 18 °C e 21 °C.

b) Umidade: a divisão celular faz parte do processo de enraizamento de estacas e, para que haja divisão celular, é necessário que as células se mantenham túrgidas. Desde o momento da coleta, esse fator deve ser observado com cuidado. Recomenda-se que a coleta dos ramos para retirada das estacas seja feita em períodos mais frescos do dia, preferencialmente pela manhã, ou em dias nublados, com as plantas matrizes em estado túrgido A perda de água da estaca é uma das principais causas de sua morte. O uso de nebulização intermitente reduz a perda de água da estaca e favorece a manutenção da umidade em torno dela, principalmente quando são utilizadas estacas herbáceas e sem lenhosas, nas quais, geralmente, são mantidas folhas. Por outro lado, deve-se tomar cuidado com o excesso de umidade, uma vez que essa condição favorece o desenvolvimento de patógenos.

c) Substrato: diferentes substratos podem ser utilizados, tais como areia, vermiculita, casca de arroz carbonizada, turfa, composto orgânico, serragem, solo ou mistura de mais de um desses materiais. Um bom substrato deve sustentar as estacas durante o enraizamento; manter o equilíbrio entre retenção de umidade e aeração, de forma que nenhuma dessas condições esteja prejudicada; e proporcionar nutrição para o desenvolvimento inicial do sistema radicular. Para espécies de fácil enraizamento, o substrato tem menor importância do que para espécies de difícil enraizamento, cujo substrato pode influenciar decisivamente, tantono percentual de enraizamento quanto na qualidade do sistema radicular formado. Não há consenso quanto ao melhor substrato, sendo necessário muitas vezes testá-los de acordo com a espécie e, também, adaptar-se aos materiais disponíveis na região, pois o custo de transporte pode inviabilizar a utilização de certos substratos que estão muito distantes do local de propagação.

d) Luz: a região basal da estaca, onde se formarão as raízes, deve ser mantida em ambiente completamente escuro, entenda-se, enterrada no substrato. Em relação à planta matriz, a baixa luminosidade antes da coleta das estacas tende a favorecer a formação de raízes. Uma alternativa para espécies de difícil enraizamento é provocar o estiolamento dos ramos, que pode ser obtido utilizando-se sombrite ou outro material que provoque sombreamento sobre a planta matriz (ex.: plástico escuro), ou ainda algum tipo de fita escura ao redor dos ramos, especialmente na parte que será a base da estaca, por um período aproximado de 30 dias. Como estiolamento entende-se o desenvolvimento de uma planta, ou parte dela, na ausência de luz, o que resulta em brotações alongadas, com folhas pequenas e com baixo teor de clorofila. Essa alternativa pode ser utilizada em plantas de difícil enraizamento, pois o seu uso é limitado, e sua execução não é tão simples.

Além dos fatores relacionados às plantas e dos fatores externos que influenciam no enraizamento, outros aspectos devem ser observados para se obter sucesso na propagação vegetativa por estacas. Entre estes, podem ser citados:

a) Obtenção do material propagativo: devem ser selecionadas as plantas matrizes em ótimo estado fitossanitário, com vigor moderado e sem danos ocasionados por secas, geadas ou outras intempéries e, ainda, estar em condições nutricionais equilibradas. Quando a produção de mudas por estacas for com finalidades comerciais, as matrizes devem ter identidade conhecida.

b) Preparo e manejo das estacas: normalmente as estacas são preparadas em um galpão. Deve ser feito com tesoura de poda e devem permanecer em água até serem colocadas no substrato. Estacas lenhosas podem ter ente 20 cm e 30 cm de comprimento e diâmetro entre 0,6 cm e 2,5 cm, dependendo da espécie. Estacas sem lenhosas apresentam comprimento entre 8 cm e 15 cm, e estacas herbáceas podem ser ainda menores, geralmente entre 6 cm e 10 cm. O corte superior da estaca deve ser feito logo acima de uma gema e o inferior, logo abaixo. As folhas, quando forem muito grandes, devem ser cortadas ao meio, para diminuir a perda de água. Em algumas espécies, cortes laterais na base da estaca podem favorecer a emissão de raízes.

c) Estaqueamento: o plantio pode ser feito em recipientes (sacos plásticos, vasos, baldes, caixas, bandejas de isopor), quando se trabalha com estacas sem lenhosas e herbáceas, ou diretamente no viveiro, para estacas lenhosas. No caso de o plantio ser realizado diretamente no viveiro, é necessária a manutenção de umidade, seja por chuva ou por irrigação. Recomenda-se, de modo geral, enterrar 2/3 da estaca. Também é recomendável a imersão da base da estaca em solução fungicida, antes de enterrá-la, para evitar o aparecimento de doenças. Deve-se tomar o cuidado para que não se formem bolsas de ar na base da estaca, devendo o substrato ficar bem aderido à mesma.

d) Lesões na base das estacas: podem favorecer o enraizamento, especialmente em estacas que apresentam madeira velha na base. As lesões devem ser feitas através de um ou dois cortes superficiais, de aproximadamente 2 cm a 3 cm na base da estaca, removendo-se apenas uma porção da casca. Esses cortes permitem que haja maior absorção de água e fito hormônios, aumentando a eficiência de enraizamento.

e) Uso de fito reguladores: numerosos compostos químicos podem ser utilizados no enraizamento de estacas e, em muitos casos, permitem aumentar a eficiência do processo. Geralmente são utilizadas auxinas sintéticas, tais como o ácido indolbutírico (AIB), o ácido naftaleno acético (ANA) e o ácido indolacético (AIA), sendo o mais utilizado o AIB. Essas auxinas são aplicadas externamente na base da estaca. A concentração do fito regulador mais adequada depende de cada espécie e do tipo de estaca, sendo necessário, geralmente, realizar testes para verificar sua eficiência.

A aplicação desses fitos reguladores pode ser feita via líquida ou via pó. Quando aplicados via líquida, a base das estacas, geralmente 3 cm a 5 cm, é colocada em contato com o AIB por um determinado período de tempo, dependendo da concentração do produto. Para testes iniciais com AIB, geralmente, pode-se partir de concentrações de 1.000 ppm (1 g.L-1) a 2.000 ppm (2 g.L-1), por 5 a 10 segundos. Concentrações mais elevadas e maiores tempo de exposição à solução de AIB podem provocar fito toxidez e prejudicar o enraizamento das estacas, muitas vezes provocando a mortalidade das mesmas. Quando é aplicado via pó, a base das estacas é colocada em contato com o pó contendo o fito regulador e então colocada no substrato. Muitas vezes, esses fitos reguladores necessitam ser preparados para sua utilização, sendo recomendada a consulta a técnicos especializados. Porém, também são encontrados comercialmente, sendo de mais fácil aquisição o pó.

fonte: http://www.fruticultura.iciag.ufu.br

 

 

 

 

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