Bonsai no brasil – Juca bonsai

(juliano della jacoma) Por Paulo Roberto Schweitzer

 

1 – Quando você se interessou e começou a se dedicar à arte do bonsai?

Iniciei na arte do bonsai em 2005. Interessei-me pelo bonsai, como muitos praticantes no Brasil, através do filme karate kid, clássico da sessão da tarde. Meu primo fez um curso básico em Curitiba, me emprestou uma apostila. Logo comprei revistas e fui estudando. Meu primo sempre que aprendia uma coisa repassava para mim.

Passei muito tempo trabalhando sozinho e aprendendo através dos livros, minha região fica muito longe dos centros do bonsai no Brasil, eu não tinha ninguém como referencia. Apesar da dedicação, evolui muito pouco. Foi em 2013 em um curso do Carlos Tramujas, que veio a minha região, que tudo começou a evoluir.

Logo em seguida tive a ideia de iniciar um viveiro de produção de plantas ornamentais e pré bonsai, devido à região onde moro ser pequena e o bonsai não ser conhecido, percebi que não seria viável.  A essa altura já contava com um acervo de 1500 plantas todas produzidas por mim, tive começar a diminuir o plantel, pois não conseguia vender pelo valor que tinha e dava muito trabalho cuidar de tudo sozinho.

Hoje, o bonsai é a coisa mais importante que tenho, dedico praticamente todo o meu tempo livre as plantas. O legal do bonsai, é que a as plantas vão evoluindo à medida que vamos aprendendo. Chega um ponto que você olha as fotos antigas de plantas que eram “lindas” e você vê que estão cheias de defeitos que antes era incapaz de perceber.

Bonsai é uma busca constante pela perfeição, pela evolução e por mais que se estude e se dedique sempre temos coisas pra aprender.

2 – Que espécies você mais gosta de trabalhar?

Gosto de trabalhar coníferas. Minha espécie preferida é o shimpaku.

3 – Que espécie você gostaria de trabalhar na sua região, mas as circunstâncias de clima e adaptação não permitem?

Por morar numa das regiões mais frias do Brasil, tem muitas espécies que não posso trabalhar, piteco e Caliandra do nordeste são 2 que eu destacaria.

4 – Dos seus trabalhos, qual você destaca com um carinho especial? Fale-me um pouco sobre ele.

Gosto de trabalhar a longo prazo tenho alguns trabalhos que gostaria de destacar:

Loniceira: inicio 2008 primeira aramaçã

2009 segunda aramação

2010

2012 passagem pra mamadeira

2013, depois do primeiro curso de bonsai, ganhou mais patamares.

2015, infelizmente comecei a perder galhos dessa planta, por que as espécie não é muito boa.

2016, hoje ela esta assim, coloquei este trabalho que não deu certo, para que os iniciantes entendam a importância de escolher espécies propicias a arte do bonsai. Apesar da estrutura da planta ser boa, os galhos secam de uma hora pra outra. Mesmo assim pra mim valeu a pena cultiva-la, apesar da decepção pelo resultado final, eu aprendi muito com ela.

Outro trabalho que tenho um carinho especial de uma tuia jacaré:

Em 2009 era apenas uma muda

2009 primeiro trabalho

2010 iniciou brotação forte

2012 foi pra mamadeira para desenvolver mais rápido

2013 após muitas seções de arame, um grande desenvolvimento

2015 um momento difícil, eliminação dos galhos mais baixos e troca da frente. Como a eu fui evoluindo lentamente no bonsai, demorei 6 anos pra perceber que a frente estava errada.

2015

Agosto 2016 nova estilização, para correção de defeitos e definição do estilo final

Novembro 2016 agora a meta é começar um trabalho de madeira morta e passar para o vaso

Outro trabalho que tenho muito orgulho é este shimpaku

2009 Planta doente adquirida em floricultura, ninguém queria, estava abandonada.

2010 primeiro trabalho e passagem pra mamadeira

2014 demorou muitos anos pra recuperar a saúde, decidi trocar a frente também

2015 pinçagem drástica e seleção de galhos

2016 nova seção de arame, continuação do projeto. Hoje as pessoas elogiam este trabalho, mas quando comecei, ate quem não entende nada de bonsai não dava 1 real.

5- Você segue alguma escola ou estilo nas suas criações?

Gosto do tradicional, então sigo a escola japonesa.

6 – Você gosta mais de algum estilo de bonsai em particular? Qual?

O estilo que mais me chama a atenção é o moyogi, quando iniciei, minha referencia era as arvores do filme Karate Kid que tinham esse estilo.

7 – O que a arte do bonsai agregou na sua vida?

Eu encontrei no bonsai uma maneira de ser feliz todos os dias. O bonsai me ensinou a ter disciplina, humildade, paciência, buscar a perfeição, a dar valor às coisas simples. O surgimento de um broto, uma flor que abre, traz satisfação. É muito gratificante ver a evolução do trabalho ao longo dos anos.

 

8 – Você acha que um bonsai deve seguir uma ordem rígida de técnicas e estética, ou deve seguir uma forma mais livre e artística?

Essa pergunta vi sendo feita a um mestre do Brasil, ele respondeu “nós devemos conhecer a regra para quebra-la”. Acredito que devemos seguir as regras, mas tem em alguns casos é melhor fugir a regra, por exemplo: para obter uma harmonia melhor, ou para esconder uma defeito. Oque não pode acontecer é o iniciante pensar que não tem regra, que pode ser feito de qualquer jeito por que na natureza não existe regra, pois sai àquelas plantas aberrações que se vê muito por ai.

9 – Que bonsaista (um ou mais) chama a sua atenção hoje no cenário mundial?

Internacionalmente: o mestre Kimura, Bjorn Bjorholm, Graham Potter, Ryan Neil, Nacho Marin, entre outros.

No Brasil minhas referencias são: Adriano Azambuja Roldão, Edson Cordeiro e Carlos Tramujas.

10- Hoje é mais fácil começar a se dedicar ao cultivo de bonsai? Quais eram as maiores dificuldades no início?

Hoje em dia é muito mais fácil, o conhecimento esta ai na internet, você pode conversar com bonsaistas de varias partes do mundo, ver vídeos dos melhores bonsaistas trabalhando. Uma das grandes dificuldades que encontrei no inicio foi adquirir o conhecimento, pois moro numa região de poucos bonsaistas, isso me atrasou muito, perdi tempo com material de pouca qualidade e espécies que não são boas para o cultivo do bonsai. Em 2013 quando fiz meu primeiro curso de bonsai, com o Carlos Tramujas, comecei a entender melhor o que era um bonsai de verdade. Foi um divisor de águas, além do conhecimento adquirido, conheci bonsaistas da minha região para trocar experiências.

11- Qual a sua percepção hoje da arte do bonsai no Brasil? Você acha que teve um crescimento? Há uma maior projeção dos nossos artistas no cenário mundial?

O bonsai no Brasil vem crescendo, temos alguns nomes já consagrados e outros que estão surgindo agora que estão se destacando. Inclusive alguns brasileiros participando de eventos internacionais. Claro que temos muito a evoluir ainda

12 – Que conselhos você daria para quem está começando a se dedicar à arte do bonsai?

Comece da maneira correta, fazendo cursos em locais especializados. Tenha como referencia bons bonsaistas. Procure espécies que se adaptem a sua região e que sejam propicias ao cultivo do bonsai. Tenho experiência nesses casos, moro em região fria e tentei cultivar plantas de local quente, cultivei espécies que não eram boas e depois de alguns anos secaram galhos do nada, como resultado disso: trabalho perdido e decepção. Também não vai querer começar por um pinheiro negro, procure espécies para iniciantes como Caliandra e Serissa que são resistentes e crescem bastante.

A foto a seguir é de quando comecei, é evidente que a quantia de plantas era enorme, mas nenhuma delas tinha futuro. Tanto que quase 10 anos depois, nenhuma delas está comigo.

O maior conselho que recebi foi do Carlos Tramujas, “esquece essas tuas plantinhas, vai buscar plantas boas, plantas velhas de jardins”. Pra mim foi difícil, por que tinha me apegado com aquelas mudinhas sem futuro, mas conforme fui estudando, vi que ele tinha razão e comecei a desfazer-me da “tralha”. Sempre admirei muito o trabalho do mestre Kimura, então imaginei, se ele começasse a plantar raminhos que nem eu faço, ele chegaria ao nível que ele esta? Obviamente que não, o tempo de vida dele não bastaria ninguém tem mil anos pra esperar, por isso é importante buscar material de qualidade.

Hoje procuro materiais como essa azaleia, base tem quase 45 cm de comprimento, a circunferência do nebari tem cerca de 115 cm. Trabalhei uma manhã inteira pra arrancar, mas ganhei 50 anos. Acredito que em 5 anos de trabalho vou ter um bonsai de alto nível pra minha coleção.

13- Que atributos o bonsaista deve ter para conseguir um bom resultado nos seus trabalhos?

Buscar o conhecimento, treinar as técnicas, ter bons artistas como referencia, se dedicar, respeitar a planta, realizar procedimentos nas épocas corretas e não se acomodar, continuar a busca, no bonsai nunca se sabe tudo.

14- Quais os benefícios que podemos encontrar no cultivo da arte do bonsai?

Cultivar um bonsai é como cuidar de um bicho de estimação ou de uma criança, você se apega a ele, o cuidado é diário, da pra o ver crescendo, sentir as mudanças das estações nas reações da planta diante do clima. Além disso, o bonsai prega uma filosofia de paciência, humildade, disciplina, isso são coisas que não temos mais no nosso dia a dia. Se cada pessoa conseguisse manter um bonsai vivo, tenho certeza que o mundo seria um lugar bem melhor.

15 – Diga uma frase, um pensamento, que você ache que sintetiza nossa arte.

É uma frase do John Naka:

“parece que o estudo do bonsai nunca acaba”. Quanto mais avançamos, mas longe parece estar à meta. O broto de hoje  é a rama de amanhã e devemos continuar com nossa determinação de aprender tudo o que a natureza tem pra oferecer.

“É como buscar a base de um arco-íris, quanto mais se persegue mais longe está, mas a diversão e o prazer estão na busca”.

Momentos

videira, em 2016 no curso do Adriano

joiville 2016 encontro ANCB

2013
 meu primeiro curso de bonsai com o carlos
Fevereiro de 2017 junto com nosso grande amigo adriano de azambuja roldão

 

 

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