SUISEKI – IMAGINAÇÃO E EMOÇÃO - 27/04/2017

Categoria: Novidades

Noções preliminares sobre a arte do Suiseki.

Por:  Elio Luis Secchi  (Seki)

Este material é apenas um ensaio preliminar sobre a arte do Suiseki. Longe de ser algo profundo ou mesmo completo, tem apenas a intenção de levar aos interessados, um material que possa ser impresso ou arquivado e venha servir para consulta ou estudo e formar um lastro inicial de conhecimentos sobre esta arte maravilhosa.

ESTILOS

Incialmente existem duas grandes divisões nos estilos do suiseki:

• PEDRAS PAISAGEM

• PEDRAS OBJETO

PEDRAS PAISAGEM

As pedras paisagem podem ser:

Montanhas (yamagata-ishi):

Montanhas vista de longe (toyama-ishi ou enzan-seki)

Montanhas vistas de perto (kinzan-seki)

Sub-classificações: Com cascatas, com rios, com patamares (dan-seki), com declives (doha-seki), montanhas da beira mar (base polida pelas ondas), montanhas com grutas, cavernas (dobutsui-ishi), banco de areia, ilhas, pedra refúgio (yadori-ishi), pedra túnel ou arco (domon-ishi), pedra lago, pedra poço, penhascos e muitas outras formas presentes na natureza.

PEDRAS OBJETO

Forma humana (sugata-ishi ou jimbutsu-seki), forma animal (dobutsu-ishi), forma de peixe (uogata-ishi), forma de pássaro (torigata-ishi), forma de inseto (mushigata-ishi), forma de ponte (hashi-ishi), forma de casa (yagata-ishi), forma de barco ou navio (funagata-ishi), forma de frutas, forma de plantas, formas abstratas (podem imitar obras de arte)e tantas outras...

Pedras com desenhos na superfície: motivos de pessoas, animais, peixes, pássaros, plantas, flores, folhas, gramíneas, frutos, paisagens, corpos celestes, lua, sol, estrelas, montanhas, neve, planícies, praias, fenômenos meteorológicos, chuva, relâmpagos, fogo, raios, vento. Motivos abstratos como peles de animais, superfícies da crosta terrestre, cascas de árvores e por aí vai... muitas, muitas outras possibilidades.

KIKA-SEKI É a pedra que tem desenho em forma de crisântemo. Muito apreciada pelos japoneses pois o crisântemo é a flor emblema do Palácio Imperial japonês.

O QUE DENOMINAMOS PEDRAS:

ROCHAS – MINERAIS – FÓSSEIS

Convencionou-se no mundo do suiseki que eles estariam sempre enquadrados em pedras classificadas como ROCHAS. Rocha geologicamente é um aglomerado de vários minerais, originários dos vários processos conhecidos pela geologia: sedimentares, magmáticas ou ígneas, metamórficas ou mesmo a combinação de mais de uma delas.

Quando uma pedra é formada apenas por um mineral (cristal de quartzo, ágata, ametista, calcedônia, felzpato, mica, etccc...) não deve ser considerada um suiseki. Também não se consideram suiseki os fósseis, apesar de serem rochas formadas por vários minerais. Porém sendo fósseis não entram como suiseki (árvores, peixes ou outros animais petrificados)

LOCAIS PARA COLETA DE PEDRAS

Sem dúvida o melhor local que temos para coletar pedras são os rios ou arroios. Os melhores pontos dos rios ou arroios não são: nem bem nas cabeceiras, nem bem na foz. Os pontos do trajeto intermediário de um rio são os melhores pontos, onde as pedras já roladas e desgastadas de suas impurezas e arestas tem também um tamanho adequado para suiseki. Nas cabeceiras as pedras são sempre maiores enquanto que próximo a foz, muito pequenas. Em alguns casos de rios, ao chegar próximo da foz apresentam somente areia. Após o rio ter algumas corredeiras, ou entre elas, existem normalmente no lado de dentro das curvas trechos com muitos cascalhos à vista. Estes são os melhores locais. Em outros casos, mesmo onde o rio é mais reto, formam-se bancos de cascalho em seu leito e quando as águas baixam se tornam ótimos locais para coleta.

Mas também podemos encontrar pedras interessantes em muitos outros locais. Mesmo à beira das estradas, nos barrancos ou terras aplainadas para fazer ruas ou mesmo uma obra de aterro, podemos encontrar pedras interessantes. Normalmente estas pedras não estarão limpas e polidas, mas terão uma crosta de terra ou mesmo de pedra em decomposição, o que deverá ser posteriormente retirado. Esta retirada da sujeira poderá nos revelar ótimas surpresas. Quando estamos andando em estradas e vemos locais com boa quantidade de pedras de tamanho médio, vale a pena dar uma parada ao menos para analisar o tipo de formação rochosa e possivelmente encontrar alguma coisa interessante.

LIMPEZA

Textos escritos em outras línguas eventualmente usam o termo “polir” a pedra. Porém este termo para nós tem outro significado. Para eles, polir é apenas retirar as impurezas, o que em suiseki é permitido. Porém para nós polir normalmente significa mais que retirar as impurezas, retirar partes do objeto que está sendo polido, para obter brilho, seja pedra, madeira, ferro, ou qualquer coisa. Este polimento, conforme nós o concebemos, não deve ser feito no suiseki.

Podemos sim retirar todas as impurezas, sujeiras, terra, partes decompostas da rocha, a fim de chegarmos a deixar apenas a parte dura da pedra. Para tanto podemos utilizar tanto ferramentas manuais quanto mecânicas. Porém a dureza do material que utilizamos para limpar a pedra tem que ser compatível com a dureza da pedra a fim de não agredir a mesma.

Se ainda não sabemos a dureza da pedra que vamos limpar, começamos com uma escova de nylon, escova de dentes, pincéis, palitos de madeira ou bambu, etc... Mas se estes materiais não forem o suficiente para limpar e notamos ou sabemos que a pedra tem dureza suficiente para suportar escovas metálicas, podemos ir subindo passando para escovas de bronze e possivelmente de aço, bem como espátulas ou palitos de ferro ou aço. Também as escovas rotativas elétricas podem ser usadas, de qualquer tamanho ou material. O ponto crucial a ser observado sempre é: não pode danificar a parte dura da pedra ou deixar marcas visíveis da intervenção. Normalmente os cascalhos rolados dos nossos rios já se encontram sem impureza alguma, em função do processo de rolagem, não sendo necessário mais do que uma simples limpeza com água e esponja ou escova de nylon.

Convém frisar que para suiseki buscamos preferencialmente pedras duras, que não se esfarelem ou desmanchem com facilidade.

A PÁTINA

“Só com uma bela pátina, uma pedra comum se transforma em um Suiseki” ( Willi Benz).

A verdadeira pátina é aquela do manuseio da pedra, onde a gente acaba deixando a gordura corporal impregnada nela. Vale passar a mão pela testa, cabelo, rosto, etccc, para adicionar mais gordura nas mãos e esfregar na pedra. Vale esfregar a própria pedra no corpo, coletando assim diretamente a gordura acumulada na pele. Mas este processo, puro, pode demorar vários anos, dependendo da dureza e porosidade da pedra. Pedras mais moles ou com uma granulometria maior absorvem muito a gordura, portanto demoram muito mais para adquirir uma bela pátina. Já pedras muito duras e com grãos finos, como as pedras da Ligúria – Itália por exemplo ou mesmo alguns de nossos basaltos (nem todos) adquirem uma boa pátina apenas manuseando uma meia-dúzia de vezes.

Podemos então apressar o aparecimento da pátina, aplicando inicialmente algum outro tipo de gordura, onde são indicados alguns cremes ou óleos, especialmente os naturais. Óleo de linhaça, azeite de oliva, cremes hidratantes, etc.. O creme Nívea é considerado muito bom por ser uma gordura solúvel em água. São possibilidades interessantes para fazer a primeira parte da pátina a fim de fechar a maior parte dos poros da pedra. Mas mesmo estes devem ser aplicados com cautela, sem excesso, para não deixar a pedra com um aspecto gorduroso o que ficaria extremamente feio. Então podemos aplicar nas mãos uma fina camada destes óleos ou cremes e ir friccionando a pedra. Pode-se também aplicar com pequenos trapos de algodão ou mesmo com pincéis a fim de chegar nas frestas ou pequenos orifícios na pedra. Neste caso se faz a aplicação e logo em seguida com um pano de algodão se retira o excesso. Com uma escova de pelo pode-se retirar o que ficou nas frestas. No dia seguinte, ou vários dias depois podemos repetir a operação até notar que os poros estejam selados. Depois de fechados os poros principais, dias ou semanas após tem que pegar a pedra e iniciar o manuseio a fim de aplicar ainda assim a pátina corporal para o acabamento final. Qualquer pessoa um pouco experiente em suiseki irá notar se a pátina é totalmente artificial. A pátina corporal deixa um brilho sedoso, totalmente diferente dos óleos ou cremes. Mesmo depois da pátina “pronta” de tempos em tempos é bom pegar a pedra e manusear para renovar a pátina, ou mesmo passar algum pano de algodão friccionando levemente, caso contrário, dependendo das condições de umidade a pátina poderá até criar mofo se não for feita esta manutenção.

SUIBAN OU DAIZA

Um suiban pode servir de base para apresentação de um suiseki. Aliás, os puristas dizem que esta é a melhor maneira de se expor. Mas somente vale para pedras paisagem (montanhas, platôs, ilhas, ladeiras, refúgios, etcc..). As pedras objeto somente devem ser apresentadas em daiza. Ainda assim diz-se que a apresentação em suiban é uma apresentação de verão. Portanto se uma pedra for mostrada durante o inverno numa exposição ou mesmo estando à mostra em casa, deveria estar em sua respectiva daiza. Os suiban são sempre de cerâmica ou bronze (doban). Sabe-se que existem pessoas começando a utilizar materiais alternativos para suiban (assim como no bonsai), porém no suiseki estes suiban ainda são vistos com bastante resguardo e em exposições tradicionais nem sequer são aceitos, ao menos por enquanto. Porém as coisas podem mudar com o tempo. Veremos no futuro como isso irá se comportar. Os suiban devem ser sempre retangulares ou ovais e o tamanho orientativo é que seja de aproximadamente 2 a 2,5 vezes a largura frontal da pedra. Existem tabelas de proporções entre comprimento, largura e altura dos suiban, mas não vamos nos deter a estes detalhes aqui. Da mesma forma que no bonsai a pedra nunca é colocada centralizada no suiban, mas levemente deslocada do centro. No caso de uma montanha em declive ou que tenha vários picos a parte mais baixa da montanha vai ficar no lado em que sobra mais suiban vazio, dando assim uma sensação de continuidade do desnível que está sendo visto. Existem também várias outras situações que não abordaremos aqui. Os suiban para suiseki devem ser rasos e sem furos. A areia utilizada deve ser peneirada com duas peneiras a fim de retirar tanto os mais finos quanto os mais grossos e vir a ter os grãos o mais próximo possível do mesmo tamanho. A cor da areia em tonalidade bege, pastel, etcc.. e todos os grãos de cores diferentes também deveriam ser retirados, ficando a areia de uma cor só ou ao menos próximo da mesma coloração.

Além de estar em suiban ou daiza para mostra do suiseki ele deveria estar sobre uma mesinha, que também seguem algumas regras de proporção, mas ainda estamos bem longe de seguí-las com rigor. Inclusive sobre a altura há uma pequena controvérsia: há os que dizem que a mesa de suiseki tem que ser rasa (a maioria defende esta tese) enquanto outros dizem que deveria ser alta para facilitar a visualização do suiseki. Obviamente para ser mais rasa o local a se expor deveria estar mais elevado do que normalmente fazemos e mesas de altura padrão.

DAIZA

A confecção de uma daiza pode ser, deve ser e de fato é um trabalho prazeroso. Por isso não pode ser uma corrida contra o tempo. Se pretendemos fazer uma daiza em 2 ou 3 horas certamente não será um trabalho prazeroso e muito menos será um trabalho de qualidade aceitável. A utilização de algumas ferramentas elétricas pode facilitar e agilizar algumas partes do processo, porém como já utilizei e utilizo tanto o método manual como as máquinas posso afirmar que o ganho de tempo não é tão grande e em ambos os casos podemos chegar a um ótimo resultado. Certamente com máquinas para os desbastes mais brutos ganharemos tempo, mas na parte de acabamento o que vale mesmo é a paciência. Algumas ferramentas manuais utilizadas: formões, limas, grosas, serra-arco, serrinhas de ferro, pedra de afiar, lixas diversas e além de uma gama bem grande de outros possíveis. Ferramentas elétricas úteis, mas não imprescindíveis: Tupia, fresadora Makita, Dremel ou outras marcas, serra tico-tico,

serra fita, lixadeiras rotativas, etc... De todas elas a que eu mais uso é a Dremel com cabo extensor onde pode-se acoplar diversos tipos de pequenas ferramentas: fresas, lixas, esmeril, escovas, etc... O cabo extensor dá a facilidade de ter a peça a ser trabalhada numa mão e a outra utilizar a ferramenta. Outra grande vantagem da Dremel neste caso é a possibilidade de regular a velocidade, facilitando ao retirar partes delicadas para não ocorrer de estragar a peça. Também certas ferramentas ou as pequenas lixas rotativas, por exemplo, se forem usadas em rotação muito alta acabam queimando a madeira ou mesmo a lixa.

Para a fixação da madeira pode-se utilizar morsas ou peças simples de prender na mesa conhecidas como Sargento.

MADEIRAS

No Brasil temos inúmeros tipos de madeiras que podem ser utilizadas. O importante é que a cor da madeira tenha certa harmonia com a cor da pedra, mas isso também se pode conseguir pigmentando na hora do acabamento. Não fica bem contrastes do tipo madeira escura para pedra clara ou vice-versa. Pigmentar a madeira não é pintar, mas sim usar seladores, Stein, ceras com pigmento que vão dar outra coloração a madeira. O acabamento deve ter um leve brilho, sedoso, não pode ser intenso. Por isso não se recomenda o uso de vernizes que normalmente refletem bastante a luz ficando muito brilhosos. O brilho da daiza não deve atrair demasiado o olhar do observador.

Madeiras duras são um pouco mais difíceis de trabalhar, mas produzem acabamentos muito melhores. Madeiras macias na hora do acabamento abrem muito os poros e não ficam muito bem. Além disso madeiras macias “ esmagam” com ferramentas tipo formão, e podem arrancar pedaços ao invés de cortar com a ferramenta de modo que acabam estragando a peça. Também não se recomenda utilizar madeiras que tenham veios muito salientes. No nosso caso, o angelim é uma destas madeiras que além disso é fibrosa, lasca facilmente e também facilmente solta “ felpas” que acabam machucando o operador. Uma madeira que eu acho ótima é a imbuia. Ela é ótima para trabalhar, não lasca facilmente, não é muito dura e tem fibras finas o que dá um ótimo acabamento. Num mesmo pedaço desta madeira pode ter partes mais claras e mais escuras, então se recomenda utilizar somente uma parte da cor, deixando a outra parte para pedras de outra tonalidade. Até tem a vantagem de podermos fazer daizas com o mesmo pedaço de madeira para pedras claras e escuras. Vou citar ainda outros tipos de madeiras fáceis de encontrar e que servem muito bem: cedro-rosa, grápia, itaúba, ipê, canjerana, canela, louro freijó, pinho, pau marfim, cerejeira, jacarandá, andiroba, cinamomo e por aí vai...

Uma excelente forma de se conseguir madeiras de boa qualidade é com madeiras de demolição. Aberturas, batentes ou marcos de portas e janelas, paredes de casas antigas, sempre foram utilizadas madeiras nobres e que já estão bem secas e curtidas e servirão para fazer boas daizas. De outra parte em madeireiras ou fábricas de móveis ou esquadrias normalmente se consegue pequenos pedaços de madeira que são descartados, sem custo nenhum.

Contatos: Facebook: Élio Luis Secchi (Seki) e-mail: elsecchi@tca.com.br Visite e peça para participar do Grupo no Facebook: SUISEKI BRASIL